domingo, 2 de março de 2008

CARTA DE PROTESTO A UM JORNALISTA NORTE-AMERICANO

CARTA A UM JORNALISTA NORTE-AMERICANO Prezado senhor: Tenho acompanhado pelos meios de comunicação suas palavras ou, até mesmo, sua loucura. Sou apenas um brasileiro que, admira muitos dos seus conterrâneos que se tornaram grandes amigos meus. Não tenho raiva do teu país, apesar de muitas vezes ele ter me dado motivos para isso. Mas o que me traz aqui é uma revolta que certamente é a mesma que abate milhares de simples brasileiros como eu. Somos um país de Terceiro Mundo, subdesenvolvido, que tem suas mazelas e seus problemas. Temos, em termos de tecnologia, um grande avanço nas mais diversas áreas, principalmente a aeronáutica. Inclusive, a nossa Embraer é a terceira maior empresa aeronáutica do mundo. Nosso sistema de vigilância aérea é composto por produtos de origem norte-americana, ou totalmente, ou em sua grande maioria. O senhor esteve em nossos céus recentemente. Teve a oportunidade de conhecer o nosso sistema de navegação e vigilância aérea que segue os padrões mais rigorosos internacionais e, até agora, tudo indica que eles funcionaram muito bem. Todos os indícios indicam erros grosseiros dos tripulantes do avião ao qual o senhor viajava. Tais erros, tão sem nexo e primários, ceifaram a vida de 154 pessoas e deixaram mais de uma centena de famílias sem seus entes queridos. Deixou um país em luto e consternado por saber que tudo isso poderia ter sido evitado. Não quero entrar nos meios técnicos, porque sou apenas um entusiasta da aviação, mas entendo um pouco do que aconteceu. O senhor diz aos quatro cantos do mundo que nosso sistema aeronáutico não serve, é ineficiente. Ora, lhe pergunto: O seu sistema evitou o 11 de setembro? O seu sistema evitou outros choques de aviões menores contra edifícios? O seu sistema evitou recentemente outro choque contra um prédio através de um avião pequeno? Infelizmente senhor jornalista, não!!! Infelizmente milhares de vidas foram perdidas porque o seu sistema de monitoramento não foi eficiente. Sinto por essas vidas ceifadas pelo sistema de monitoramento da maior potência do planeta. Sinto pelas famílias que perderam seus entes queridos. Mas, como ser humano e brasileiro, lamento mais ainda pelas 154 vidas perdidas, ceifadas, interrompidas por erros humanos. O senhor já parou para pensar que, enquanto divaga pelos quatro cantos do mundo com acusações e desvarios, 154 pessoas perderam suas vidas? O senhor já parou para pensar que enquanto o senhor está no seu país, mais de uma centena de famílias choram pela perda de seus entes queridos? Talvez não! Também o senhor critica o tratamento que os pilotos estão recebendo no meu país. Ora, teoricamente, são acusados de omissão e de homicídio. Não vou entrar nos méritos, mas lhe pergunto: se fosse o contrário, como seríamos tratados? Ainda, para o senhor entender um pouco o que aconteceu, imagine que o senhor esteja dirigindo um ônibus em uma via de mão única e um carro estivesse vindo na contramão e todo apagado. Como o senhor reagiria? Para mim, resta apenas esta pergunta! Não tenho raiva do senhor, nem tão pouco do seu país. Fui educado a respeitar tudo e a todos. Mas, enquanto brasileiro, enquanto ser humano, peço ao menos respeito por parte do senhor pelas 154 vidas ceifadas, assassinadas pelo acidente com o vôo 1907 da Gol Linhas Aéreas. Peço ao senhor que ao menos que se lembre sempre que, por um erro primário, 154 vidas foram perdidas deixando uma enorme lacuna repleta de dor e tristeza nas famílias destas pessoas. Peço ao senhor que se solidarize com uma nação que ainda não se recuperou do maior acidente aeronáutico de sua história. Peço ao senhor respeito pelo luto de uma nação que enterra seus filhos sem ao menos ter culpa deste acidente. Senhor jornalista, foram 154 vidas ceifadas sem ao menos saber por que ou por terem culpa de algo...
Milvo Juliano Rossarola Júnior é professor de espanhol e português de escolas da rede privada e um entusiasta da aviação que ainda não se recuperou da enorme tragédia ocorrida no mês de setembro e que se solidariza com os familiares de todas as vítimas do vôo 1907 da Gol Linhas Aéreas.

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